O Brincar e suas contribuições.
Sabemos da importância de usar o lúdico como recurso terapêutico, a literatura traz nos trabalhos de Winnicott, o jogo como um recurso integrante no ato de aprender, ele afirma que “brincar é algo além de imaginar e desejar, brincar é o fazer”. (WINNICOTT, 1975 p. 28). Na prática psicoterapêutica, temos a “caixa lúdica”, que é um instrumento de trabalho bastante utilizado para identificar a maneira como esse sujeito se relaciona com os objetos e a forma como ele aprende, podendo facilitar o processo psicodiagnóstico.
Brincar é um meio importante e real de acessar o inconsciente, bem como de perceber o desenvolvimento da criança, pois a criança compreende o mundo a sua volta, aprende regras, testa habilidades, aprende a ganhar e perder, desenvolve a linguagem e as habilidades motoras. É importante frisar que o brincar e o jogar não se resumem apenas a formas de divertimento e de prazer para a criança, mas são meios privilegiados dela expressar os seus sentimentos através desta linguagem simbólica.
Uma fração da sessão pode ser chamada de “a hora do jogo” ou de “sessão lúdica”, esse modelo de trabalho se utiliza da caixa lúdica para fazer percepções sobre a criança onde são avaliados os seguintes aspectos: a inter-relação que a criança estabelece com o desconhecido e o tipo de obstáculo que emerge dessa intersubjetividade, aspectos relacionados à função semiótica da criança, por meio de símbolos onde podemos verificar o nível dos processos acomodativos e assimilativos e uma leitura dos conteúdos manifestados pela criança em relação aos aspectos afetivo-emocionais, relacionando-os com a aprendizagem.
Segundo Weiss (1997) a hora do jogo pode ser dividida em três momentos e o terapeuta deve estar atento para fazer as análises: O enquadramento, a observação e a avaliação. Devemos ficar atentos ao modo de brincar, como escolhe os materiais, como ele estrutura a brincadeira, se faz cálculos, se faz brincadeiras criativas, se faz distinção dos brinquedos, se repete situações convencionais, se permanece concentrada, se constrói, reconstrói, se socializa, se representa papeis, se resolve situações problemáticas, se seus movimentos são firmes, se pede ajuda, além de outros aspectos. As dificuldades de aprendizagem podem se dar pela maneira como essa criança “aprendeu a aprender”, pois muitas vezes os pais não permitem que o filho passe por todas as etapas do seu desenvolvimento, ou não os estimulam positivamente, ou ainda exigem organização demais pensando que podem contribuir para a sua maturidade. Conforme Winnicott (1997 p. 80): “é brincando e somente brincando que o indivíduo, criança ou adulto é capaz de ser criativo e usar completamente sua personalidade”.
À partir disso que a importância do brincar vai além do entendimento de diversão para a criança, pois ali fica evidenciada a maneira como esse sujeito criou seus esquemas de aprendizagem e criou recursos para entender os desafios. A maneira como a criança brinca com a caixa lúdica nos proporciona uma visão de como esse sujeito se relaciona com a sua aprendizagem, o que nos auxilia no processo de psicodiagnóstico, pois enquanto ela está brincando ela se expressa e comunica a sua realidade interior.
Neurologicamente, o brincar contribui para a base do desenvolvimento sadio, do mental do físico e do social, tendo em vista que o cérebro é adaptável, e se desenvolverá conforme aspectos exógenos (estímulos, ambiente) e endógenos(bases biológicas, patologias), o que poderá auxiliar o sujeito na construção da linguagem e da não atribuição de alguns transtornos, ou seja, a estimulação a frequência e a maneira como ocorrem essas trocas, estabelecem uma confiança entre o sujeito imaturo e a sua figura representativa, que traz desenvolvimento motor e psíquico, proporcionando vivências e memórias mais sólidas para a criança.
BARCELOS, Patrícia. Psicopedagogia: Reflexões Winnicottianas.
BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984
LEITE, Renata Franco. Caixa lúdica e novas tecnologias. Estud. psicanal. [online]. 2016, n.45 [citado 2017-06-22], pp. 145-148 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372016000100015&lng=pt&nrm=iso>.
Disponível em: 23 junho 2017.
REGHELIN, Michele Melo. O uso da caixa de brinquedos na clínica psicanalítica de crianças. Porto Alegre: Contemporânea – Psicanálise e Transdisciplinaridade, 2008.
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. Tradução: José O. A. Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago editora, 1975.