RACISMO: UMA TEIA COMPLEXA QUE SEGUE SENDO TECIDA
O racismo é como uma teia complexa que tece desigualdades sistêmicas, permeando inúmeras esferas da vida e lançando suas sombras sobre a população negra. Nesse intrincado emaranhado, encontramos áreas cruciais como emprego, moradia, educação, saúde e justiça criminal, onde as disparidades se estendem como rachaduras em um espelho, refletindo oportunidades negadas e uma qualidade de vida prejudicada.
Nesse contexto de tensões raciais, uma das manifestações mais flagrantes é o fardo do estresse crônico e os abalos na saúde mental que ecoam entre aqueles que enfrentam o racismo. Sentimentos de ansiedade, depressão e até o estresse pós-traumático frequentemente surgem como consequência das experiências racistas que se repetem.
Além disso, o racismo lança sua sombra sobre a autoestima das pessoas negras, fazendo com que questionem sua própria valia. Essas experiências diárias da discriminação racial corroem não apenas a autoimagem, mas também a autoconfiança. Como um fantasma, o racismo ronda a existência das pessoas negras.
A identidade racial e social, tão intrincadamente entrelaçada na experiência de ser negro, sofre uma profunda influência do racismo. A busca por reconciliar a identidade étnica com os estereótipos prejudiciais projetados pela sociedade pode ser um campo minado de conflitos internos, com muitos se debatendo entre quem são e quem a sociedade quer que sejam.
O racismo também dá origem a uma persistente sensação de insegurança e vigilância entre as pessoas negras, que se sentem continuamente observadas e julgadas por sua cor de pele. Essa sensação constante de ser alvo de olhares críticos cria uma atmosfera de reclusão, impedindo que se sintam verdadeiramente livres para serem elas mesmas.
Os impactos do racismo não se limitam a indivíduos; eles se estendem a famílias inteiras, onde a preocupação constante com a segurança e o bem-estar dos entes queridos é uma presença perene. Isso lança sombras sobre os relacionamentos familiares e cria um ambiente carregado de ansiedade e tensão.
As crianças negras, tão suscetíveis à influência do ambiente, enfrentam desafios adicionais em seu desenvolvimento psicossocial. O racismo mina sua autoestima, molda sua autoimagem e abala seu senso de identidade. A confiança e o autovalor podem ser difíceis de cultivar, dificultando o florescimento saudável.
Esses efeitos, intrinsecamente conectados às estruturas sistêmicas de desigualdade racial, clamam por reconhecimento e uma abordagem abrangente. É somente ao reconhecer e legitimar esses danos que poderemos almejar a igualdade racial e a justiça social que tanto merecemos. Essa reflexão precisa ecoar e transcender, estendendo-se muito além das fronteiras do mês de novembro.
Infancia e o Racismo
Infância representa uma fase crucial no ciclo de vida, onde experiências fundamentais moldam a formação psicológica da criança. Durante esse período, as interações desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e na integração das crianças no contexto social, cultural e histórico em que vivem.
Quando se trata de crianças negras, é importante reconhecer que o racismo está presente desde o nascimento, como um espectro invisível, mas inegavelmente real. Isso implica que as pressões raciais começam a afetar suas vidas desde o período intrauterino, influenciando tanto suas experiências tangíveis quanto simbólicas. Em essência, o racismo molda a vivência da criança negra por meio de seu corpo e nas interações com outras pessoas.
As interações sociais, por meio do olhar, toque, voz, fala e gestos de outras pessoas, desempenham um papel crucial sobre o modo pelo qual a criança vai sendo subjetivada. Portanto, é fundamental refletir sobre como o corpo da criança é percebido, quais tipos de comentários e brincadeiras são feitas em relação a ele, que apelidos são utilizados e como os elogios são formulados.
Essas considerações nos permitem compreender o lugar que é atribuído à criança negra no contexto social. Existem experiências que geram sobrecargas que o psiquismo infantil pode não ser capaz de processar, o que pode resultar em sintomas perturbadores em sua vida, como dificuldades de aprendizagem, medos e manifestações de agressividade, entre outros. Portanto, é de extrema importância acompanhar de perto o desenvolvimento da consciência corporal da criança e o valor que lhe é atribuído.
Ser uma criança negra em um país marcado pela discriminação e preconceito racial pode ser uma experiência desafiadora, uma vez que imagens negativas são internalizadas em seus corpos. Portanto, é crucial dar visibilidade aos impactos do racismo na construção da identidade e da subjetividade das crianças, a fim de ajudá-las a navegar por essas complexidades e desafios com apoio e compreensão adequados.
Sabrina Fernandes dos Santos
Psicóloga CRP 07/32729
Mestranda – PPGPSI/UFRGS