Resenha da Discussão Clínica “Mães Paralelas”

Resenha da Discussão Clínica do Filme Mãe Paralelas

Dia 26 de abril o núcleo de supervisão da clínica abriu um espaço para trocas entre profissionais e estudantes de psicologia,  tendo como mediador para discussões clínicas o filme “Mãe Paralelas” de Pedro Almodóvar

Encontramos um filme bastante instigante e desafiador para pensar as questões dos lutos individuais e coletivos,como também, as questões relativas às memórias e criptas*.

No filme a personagem Janis, protagonizada pela atriz Penélope Cruz, deseja abrir a fossa onde possivelmente estão enterrados os familiares vítimas do período da guerra civil espanhola.

É bastante comum na clínica nos depararmos com lutos não elaborados, ou mesmo, intermináveis onde o papel do psicoterapeuta será trabalhar de forma a facilitar o processo desta elaboração.

 O personagem Arturo, vivido pelo ator Israel Elejalde, também nos chamou a atenção pelo manejo com a Janis em diversos momentos críticos do filme. Ele  fez perguntas pertinentes sobre a paternidade da filha, mostrou-se respeitoso nas intervenções junto a comunidade e com os processos de luto desta, como o  tempo e técnica de escavação em abrir as fossas para reconstruir os eventos traumáticos e possibilitar a despedida.

Em nossa discussão observamos que a postura e condução das questões assemelham-se à função do psicoterapeuta que lida com o trauma, os lutos e segredos.

Outro aspecto importante que o filme nos convoca a pensar é como o individual e o social são inseparáveis e funcionam um em continuidade do outro. As questões que causam sofrimento em Janis são questões que estão atravessadas por um passado para além do individual, é um passado coletivo.

A discussão foi muito rica, abordamos diversos outros aspectos do filme como lidar com a associação do paciente que traz filmes, contos e outros elementos culturais, o luto individual da personagem Ana, o lugar do pai e dos homens neste conflito e suas consequências nas personagens e comunidade entre outros assuntos.

Esperamos você no próximo evento, lembrando sempre que é interessante ver o filme antes e trazer suas inquietações clínicas para o desenvolvimento da tarefa analítica.

 

*Cripta: trata-se de uma construção subterrânea, que inspirou alguns estudiosos a utilizarem  essa imagem em analogia a processos ocultos de transmissão psíquica. Abraham e Torok (1995) denominaram por cripta sua vivência vergonhosa e indizível que se configura como um segredo inconfessável e se traduz em uma fantasma que permanece enterrado no mundo intrapsíquico, como um conteúdo incrustado, encapsulado, havendo a presença da pulsão de morte (pg 122)

 

* Trauma familiar: consiste em um acontecimento na vida da família caracterizado por um afluxo excessivo de tensão devido a um acontecimento violento ou a um acúmulo de excitações de tal modo que excede a capacidade de elaboração e simbolização, acarretando lacunas no psiquismo familiar transmitidas para as gerações subsequentes  

(pg 544)

Dicionário de Psicanálise de Casal e Família. Ed Blucher (2021) 

Adriane de Rose, Bruna Ceconello e Cristiane Vieira. Supervisoras da Clínica e Centro de Estudos

 

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