Reunião Multidisciplinar na Referencial Psicológico aborda a temática de Alimentação.
O núcleo Essencial Cuidado Infantil tem mantido, desde ano passado, reuniões multidisciplinares com a nutricionista Ângela Nicoloso com objetivo de integrar a fonoaudiologia, psicologia e nutrição em encontros que possam ampliar a visão estratégica nos tratamentos de pacientes com sintomas que envolvem o aparelho digestivo e alimentação. A grande vantagem de espaços como este de estudo e trocas entre profissionais é que uma equipe multidisciplinar aprofunda e multiplica os olhares, tornando o tratamento mais eficaz.
Um dos temas tratados em nossos encontros foi a Seletividade Alimentar* e os fatores envolvidos nessa queixa como os fatores físicos e os emocionais. Estão relacionados às questões físicas a dificuldade de mastigação ou deglutição e inflamações. Já nos fatores relacionados ao emocional é importante considerar a introdução alimentar como fator estressante para algumas famílias. No caso de crianças com seletividade alimentar, observamos que o manejo de como foram ofertados os alimentos, podem facilitar ou dificultar este processo.
Outros fatores emocionais, também presentes em alguns pacientes, envolvem medos e experiências vivenciadas pela família que podem ter sido traumáticos, como por exemplo, engasgos. Tais experiências geram comportamento de medo ao oferecer um novo alimento, este receio é percebido pela criança, mesmo que não seja dito claramente e algumas famílias oferecem papinha ou alimentos triturados por um longo período. Esta forma de oferta de alimento acaba não favorecendo que a criança possa desenvolver a musculatura da boca e face comprometendo até o desenvolvimento da fala.
Em relação à intolerância à lactose, após discussão de situações clínicas, as profissionais enfatizaram sobre o quanto é importante o cuidado e acolhimento do paciente que recebe o diagnóstico, pois, a partir daquele momento ele iniciará um processo de luto pelos alimentos que não poderá mais comer.
Trabalhamos enquanto equipe a necessidade de ajudar o paciente a ouvir inúmeras vezes o diagnóstico e até compreender as mudanças que terá que fazer no seu dia-a-dia. Assim, esse diagnóstico pode ser “repetido” a ele muitas vezes, porque é natural que, como uma estratégia de defesa psicológica, o paciente negue para si mesmo tais mudanças e acabe por não seguir a dieta prescrita para ficar bem.
A aquisição da compreensão e dos ganhos que o paciente irá fazer sobre a nova dieta vem com o tempo e pode ser um trabalho realizado pela nutricionista e psicóloga.
Então será fundamental que o paciente conte com apoio psicológico nessa fase, para que tenha na terapia e na terapeuta um ambiente seguro e acolhedor para falar de suas angústias, medos e frustrações decorrentes do processo.
Izabela Felisberto CRP 06/179882
Cristiane de Paula Vieira CRP 07/08159
* Seletividade Alimentar é caracterizada por recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento. É um comportamento que pode aparecer na infância, mas poderá permanecer até a adolescência.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM, 5ª. Edição da Academia Americana de Psiquiatria, 2014), os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação.
Palavra da Nutri– (texto originalmente publicado no Instagram da Nutri Angela, segue lá!)
Quem nunca ouviu: “- É chato (a) para comer”, não sabe qual a diferença entre as preferências e a seletividade alimentar na infância.
Em primeiro lugar, precisamos descartar qualquer condição de saúde que possa estar contribuindo para a dificuldade em relação à alimentação. Os mais comuns são doença do refluxo gastroesofágico, alergias e intolerâncias alimentares.
A criança seletiva manifesta: recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento. Geralmente, há uma grande aversão a frutas e vegetais. Além da restrição alimentar, há uma recusa em experimentar novos alimentos. Essa condição aparece mais comumente em crianças portadoras do transtorno do espectro autista (TEA) ou em transtornos de ansiedade, embora não esteja restrito somente a esses grupos.
Um estudo recente sobre o aspecto da queixa materna “meu filho não come” revela que é impossível apontar por onde começam as dificuldades em termos causais: se nos sentimentos da mãe ou no comportamento da criança.
Precisamos ponderar algumas questões importantes: Será que a criança senta-se à mesa com a família para fazer todas as refeições ou será que ela não tem horário certo para se alimentar e come a qualquer hora do dia?
As refeições ocorrem em intervalos regulares e no mesmo horário todos os dias? Será que a criança come apenas uma marca específica de um alimento ou será que ela se alimenta de forma variada?
A criança experimenta diversos sabores dos alimentos ou apresenta um consumo de alimentos bem restrito? Como a refeição é apresentada? Quanto tempo dura uma refeição?
Quais são os comportamentos da criança quando ela recusa o alimento?
Quando buscamos introduzir novos alimentos pela primeira vez, é recomendável começar com um alimento com paladar preferido anteriormente, ou seja, um alimento que a criança coma ou que seja semelhante em sabor e textura do que ela come atualmente.
Ao apresentar a nova comida para a criança, os pais devem começar com uma quantidade muito pequena do alimento novo de modo a não sobrecarregar a criança e garantir uma maior probabilidade de êxito.
Orientações e prescrições precisam ser individualizadas.
Com carinho, a nutricionista Angela Nicoloso Knorr CRN 9886.